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terça-feira, 3 de agosto de 2010

Felicidade a la Jabor

A felicidade é uma obrigação de mercado


"Hoje, a felicidade é uma obrigação de mercado. Ser deprimido não é mais 'comercial'. A infelicidade de hoje é dissimulada pela alegria obrigatória. É impossível ser feliz como nos anúncios de margarina, é impossível ser sexy como nos comerciais de cerveja. Esta 'felicidade' infantil da mídia se dá num mundo cheio de tragédias sem solução, como uma 'disneylândia' cercada de homens-bomba.

A felicidade hoje é 'não' ver. Felicidade é uma lista de negações. Não ter câncer, não ler jornal, não sofrer pelas desgraças, não olhar os menininhos-malabaristas no sinal, não ter coração.

[...]

A ideia de felicidade é ser desejado. Felicidade é ser consumido, é entrar num circuito comercial de sorrisos e festas e virar um objeto de consumo. [...]

Bem - dirão vocês - resta-nos o amor... Mas, onde anda hoje em dia, esta pulsão chamada 'amor'?

O amor não tem mais porto, não tem onde ancorar, não tem mais a família nuclear para se abrigar. O amor ficou pelas ruas, em busca de objeto, esfarradao, sem rumo. Não temos mais músicas românticas, nem o lento perder-se dentro de 'olhos de ressaca', nem o formicida com guaraná. Mas, mesmo assim, continuaremos ansiando por uma felicidade impalpável.

Uma das marcas do século 21 é o fim da crença na plenitude, seja no sexo, no amor e na política.

Se isso é um bem ou um mal, não sei. Mas é inevitável. Temos de parar de sofrer romanticamente porque definhou o antigo amor... No entanto, continuamos - amantes ou filósofos - a sonhar como uma volta ao passado que julgávamos que seria harmônico. Temos a nostalgia lírica por alguma coisa que pode voltar atrás. Não volta. Nada volta atrás.

[...] O amor hoje é o cultivo da 'intensidade' contra a 'eternidade'. O amor para ser eterno hoje em dia, paga o preço de ficar irrealizado. [...] Há que perder esperanças antigas e talvez celebrar um sonho mais êfemero. É o fim do 'happy end', pois na verdade tudo acaba mal na vida. Estamos diante do fim da insuportável felicidade obrigatória. Em tudo.

[...] Usamos uma máscara sorridentes, um disfarce para nos proteger desse abismo. Mas esse abismo é também nossa salvação. A aceitação do incompleto é um chamado à vida.

Temos de ser felizes sem esperança. E este artigo não é pessimista..."

(Arnaldo Jabor, escritor, jornalista e cineasta)


Não sei o que ele é mais, se escritor, jornalista ou cineasta. Apontaria para escritor e cinasta. Um professor meu da faculdade diria que não há como ser jornalista e literário ao mesmo tempo, são duas coisas distintas. Até a metade do artigo, fui tragada pelas palavras de Jabor, caindo em suas armadilhas linguísticas e acreditando, quase reverenciando suas palavras.

Entretanto, só quem tem um hábito continuo de leitura e escrita consegue ver através do texto, consegue identificar o escritor que acredita no que diz e tenta convencer o leitor, daquele que "sabe que suas palavras são verdadeiras", não convence, não explica. Dita, ordena, conta. Ah, e quão perdido está quem acredita em tudo!

Também não sei o que me incomoda mais, a repetição de palavras ou o pessimismo. Além, é claro, da contradição. Pois começa o texto dizendo que "Hoje, a felicidade é uma obrigação de mercado" e termina alegando que "Estamos diante do fim da insuportável felicidade obrigatória". Talvez eu tenha me perdido em seu raciocínio, entrementes, creio que até mesmo ele se perdeu um pouco.

É evidente que ninguém mais morre de amor, que a plenitude e a crença na eternidade está morrendo. Isto é resultado a evolução, uma vez que os seres humanos buscam, desde os primórdios, a realidade, respostas racionais para cada elemento que cerca suas vidas. Contudo, o que dá-lhe direito de dizer que "tudo acaba mal na vida"?

Viver, sonhar, sorrir, amar. Tudo depende de como a vida é encarada e de como se aprendeu a lidar com problemas. Aprendi a nunca desistir. Se não é possivel ser feliz sempre, ao menos é possivel encontrar a felicidade de novo, de novo e de novo. Não importa o quanto o mundo tenha mudado, porque cada Era apresenta o seu desafio e apenas o "novo" pode vencê-lo.

Em apenas uma coisa concordo com Jabor: "Nada volta atrás".

Um comentário:

Vento disse...

Jabor...

A felicidade deve ser vista como algo pessoal e individual. Eu posso ficar feliz quando alguem lembra que eu existo e me convida pra um sorvete ou uma bebida... Então você diz "mas essa felicidade dependeu de alguem" ... então eu digo que, tudo bem, dependeu de alguém, mas foi um sentimento meu, decorrente de um acontecimento, o qual eu compartilhei, ponto.

Felicidade é pessoal, se deixar levar pelas imposições, seja de mercado, de mídia, ou seja la o que for, isso é procurar felicidade por não conseguir senti-la de forma pessoal.

Agora, que as coisas não voltam atrás, isso é verdade.