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sábado, 30 de agosto de 2008

Descritividade

Fechou a porta do quarto sem nenhum barulho, a maçaneta prata em formato de concha, adornada com minúsculos desenhos dourados, estava quente ao seu toque. Virou-se lentamente para o ambiente, sorriu para a cama de casal muito bem arrumada, com uma colcha lilás perfeitamente bordada. Descansavam sobre ela, cinco belas almofadas, também encapadas por um pano bordado, mas desta vez, tão branco que reluzia a fraca luz do sol que entrava pela fresta da janela aberta à direita. Em baixo desta havia uma convidativa poltrona sem encosto, para que se pudesse olhar com conforto, por horas, para os magníficos jardins que estavam além da janela. Tirou os sapatos e deu seis passos a frente e três para a esquerda, sentindo a maciez do tapete que se esticada no centro do cômodo, era branco, mas seus desenho era inteiro lilás, pássaros que voavam sob um campo, no qual a imaginação permitia dizer que era verde. Olhou em direção a porta entreaberta do closet, dava-lhe arrepios, de seu interior parecia que, a qualquer momento, olhos iriam cintilar em meio a escuridão.
Dois longos minutos se passaram, nos quais ela encarou a sombra com olhos atentos e arregalados, parecia estar pregada no chão por um medo invisível até que, uma onda de coragem e determinação fervilhou em seu interior, fazendo-a correr e fechar aquela porta fria sem exitar. Passou tão rápido, que não notou a escrivaninha branca ao lado direito da porta, onde uma grande quantidades de enfeites de louça haviam sido derrubados, por algum estranho e desconhecido motivo.
Um calafrio lhe atingiu a espinha, segurou com mais força o trinco do closet, como se esperasse que alguma coisa, ou alguém, lutasse do lado de dentro para reabri-la. Respirando fundo, voltou-se para o quarto, dando alguns passos em direção aos raios de sol, sentindo o calor voltar ao corpo; como se um velho amigo lhe estivesse abraçando. Virando-se para a parede a sua direita, sentou se na bela e estofada cadeira de uma luxuosa penteadeira. A madeira branca era suave e lustrosa, em cima desta, havia uma coleção de cremes e perfumes, além de acessórios para o cabelo e maquiagens. Pegou com carinho uma escova de metal, fabricação única, feita especialmente para sua dona, com uma rosa perfeitamente desenhada, como se uma caneta tivesse talhado o material frio e brilhante, o caule descia por todo o cabo dela, e inscrições diziam: "A perfeita, para a mais bela".
Mergulhada em pensamentos, se sobressaltou quando a porta do closet a sua esquerda se abriu bruscamente, seu coração disparou quando reconheceu o homem que caminhava para ela, e um arrepio lhe dominou ao notar o que trazia nas mãos.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Alberto Caeiro

"Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte,
empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver."

" Que pena que tenho dele!
Ele era um camponês
Que andava preso em liberdade pela cidade.
Mas o modo como olhava para as casas,
E o modo como reparava nas ruas,
E a maneira como dava pelas cousas,
É o de quem olha para árvores,
E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando
E anda a reparar nas flores que há pelos campos ...
Por isso ele tinha aquela grande tristeza
Que ele nunca disse bem que tinha,
Mas andava na cidade como quem anda no campo
E triste como esmagar flores em livros
E pôr plantas em jarros..."

domingo, 24 de agosto de 2008

Change


E todos os dias os planos se vão; se perdem nas horas, provando que o tempo me trai. A verdade é que estou presa a uma dimensão oculta a todos; presa em mim, me prendi em algum dos meus refúgios, para fugir da monotonia do mundo, ou simplesmente, provar o novo, quando este me escapas às mãos.
Ambiguidade é o que se encontra quando me olha a fundo; minhas palavras são inúteis, morrem diversas vezes todos os dias, ficando submersas em sentimentos que se prendem dentro do meu ser. A culpa não é minha, é de uma outra que existe em mim.
Travamos uma luta diariamente, ela está me roubando, engolindo meus pensamentos, minhas palavras... extinguindo meu dom, ou simplesmente, tomando-me. "Pare. Volte. Siga em frente", mensagens ecoam em minha mente; de onde vem? Não sei.
Luta dura e injusta, poderia ficar parada por um dia inteiro, pensando, viajando, explorando meu mundo imperfeito que é perfeito, querendo mais de mim, mais da vida. Consumindo as horas, os minutos... os segundos.
Custa-me muito tomar decisões, determinação, onde está você? Certamente, segue ao meu lado, amiga fiel; mas só me ajuda quando minha meta tem um propósito. E meus propósitos, se foram a muito tempo, sem dar tchau por sinal, me entristece. Onde procurá-los? pergunto-me sempre.
Minha unica prisão, reside em mim e me detém. Meus medos não são meus, recuso-os, não preciso deles. Meus desejos, se provam desejos. A realidade, está diante de meus olhos fechados.
Abri-los? Pergunto-me porque deveria.

Ingratidão à natureza


Durante eras, os seres humanos, dotados de inteligência, vagam pela Terra, explorando seus recursos e a modificando até que se esqueça que uma determinada área já foi característica de uma região do planeta, a isso se dá o nome de "evolução humana". Mas será que degradar a natureza é evoluir? Construir cidades enormes com alta tecnologia, extrair da terra mais do que ela pode oferecer e até mesmo, mais do que o necessário para se viver com algum conforto, esquecendo-se de olhar para as pequenas, mas importantes formas de vida que permitem a existência humana. Árvores e rios, elementos fundamentais para que haja habitação em um planeta, estão se tornando cada vez mais escassos. Animais estão entrando em extinção por perderem o seu espaço no mundo, o sol está se tornando um assassino e os mares mostrando a sua ira.
Logo, os responsáveis por tais acontecimentos catastróficos devem sorrir diante deles, pois este é o verdadeiro significado da "evolução humana" que buscam, e as consequências desta, serão ainda piores e se aproximam a cada dia. Ignorância é pensar que se pode fazer o que quiser com o que lhe foi dado, pois nem sempre há uma segunda chance. Se não pode repor com igualdade o que perder, é aconselhável que se cuide do que possui. Contudo, erronêo é o pensamento dos "Seres Inteligentes", que colocam seu desenvolvimento econômico e industrial em primeiro lugar, esquecendo-se que tudo o que construíram lhe foi permitido pela Mãe Terra, e toda permissão pode ser tirada.
Portanto, é melhor que o homem valorize o meio em que vive e mostre gratidão a ele, para não ter que mudar o titulo de "O planeta água", para "O planeta extinto", e não se arrepender de ter destruído a maior dádiva que um dia possuiu, tendo que presenciar a sua própria destruição.

domingo, 10 de agosto de 2008

Ser

Se sou real, é algo discutivel;
Meu mundo é fantasia;
O que sou, quem sabe, certamente não entende.

Se quem vive é e quem está morto foi, a vida está relacionada diretamente com existir. Mas a existência não comprova a alma, apenas afirma ao mundo que um corpo conciente vaga pela Terra, cumprindo a sequência humana de crescer, estudar, trabalhar e procriar. Embora não necessariamente nessa ordem.
Mas o "ser", não constitui nenhuma lei, pois é a essencia da alma; são ausentes as caracteristicas fisicas, e presentes a capacidade de reconhecer, não o ambiente que o rodeia, mas os elementos que nele estão contidos.
Portanto, se um ser humano "é", ele sempre será e nunca terá sido. Pois conquistou o direito de "ser" podendo construir para si o mundo ideal de se viver, indestrutivel e eterno. Um mundo que embora muitas vezes não compartilhado, é habitado por seres indiscutiveis e por uma certa magia, que torna real tudo aquilo em que se acredita e faz com que se atinja o limite compreensão do desconhecido, extinguindo o medo.
Pobre são os mortais que procuram entender a essencia da alma, pois há muito mais entre o Ser e o Existir, do que se possa imaginar.