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sexta-feira, 24 de julho de 2009

Um pouco de trevas

Ontem a chuva escorreu o meu bom dia, hoje amanheceu chovendo. Talvez eu não goste do tempo fechado e chuvoso porque ele me intimida. É melancólico, e estar consigo mesmo parece muito mais estar sozinho do que nos dias de sol. Ninguém poderá me convencer que pode existir o lado bom, para mim, ser prisioneira do tempo nunca será um prazer.
Frio, trevas, não-vida e um laço.



Me faz lembrar que um dia a morte falou:

"Eu não carrego gadanha nem foice.
Só uso um manto preto com capuz quando faz frio.
Eu não tenho aquelas feições de caveira que vocês
parecem gostar de me atribuir à distância.
Quer saber a minha verdadeira aparencia?
Eu ajudo. Procure um espelho enquanto eu continuo."
(A menina que roubava livros)

A verdade é que somos todos assassinos. Nem todos de almas, é claro. Mas sempre matamos o que precisa existir. Começando pela confiança, essa é a que mais morre.
Os seres humanos vivem buscando-na, tanto em si mesmo quanto nos outros, pena que poucos sabem que já a possuem, e os que sabem matam-na sempre que precisam tomar uma decisão por si só. Se a Confiança falasse, certamente questionaria o medo de arriscar conscientemente. Afinal, tudo o que fazemos é um risco, só não temos consciência disso o tempo todo.

O Próximo da lista é a Paz. Não há muito o que dizer sobre ela, alguns acham que não nasce mais, outros pensam que se escondeu para não ser esbofeteada até a morte. A maioria nunca ouviu falar.

A Fé vem logo atrás. Causa da morte: cancêr.
É evidente que não matamos a fé porque queremos, vai morrendo aos poucos sem que nos demos conta. Uma palavra ali, o tumor surge. Uma raiva aqui, ele se espalha. Uma decepção, estado terminal. Pip. piiii...

E então, a Esperança. Não a matamos de fato, mas a deixamos morrer.
Talvez ao pularmos no mar, esquecemos de tirá-la de lá, ou a deixamos cair no ralo enquanto tomamos banho.
Houve um homem que sentou-se ao lado dela numa praça, seu celular tocou e ele saiu correndo, deixando-a sozinha. A esperança não correu atrás dele, ficou esperando-o voltar, naquela praça, naquele banco. Ele não teve tempo de ir lá. Alguém a viu.

Por ultimo, o Amor. O que? Pensaram que a esperança é a ultima que morre? Quem disse isso estava vivo.
O Amor nasce e morre conosco. É verdade que as vezes ele se esconde, pensamos que nos abandonou, mas é bobagem. Ele gosta de brincar, o amor nunca vira adulto. Porém, como toda criança, nunca abandona seus pais e depende deles para existir.
Não é à toa que dizem que somos eternos amantes. Só deixamos de amar quando deixamos de viver. Porque, ao menos, amamos à vida até o ultimo momento.
Há quem diga que a odeia e prefere morrer. Entretando, apenas os que nada disseram a trocaram pela morte.

Não pensem que esqueci da Felicidade. Porém, o fato mais curioso e engraçado, é que a felicidade é imortal. Ela pode mudar e tingir-se, é quando a chamamos de tristeza. As vezes nós mesmos somos responsáveis por sua transformação. Mas, ao contrário de tudo o que é para sempre, a felicidade não é imutável. Por isso, constantemente reassume a sua forma original. Aquela que nos faz sorrir e desejar que nossos assassinatos sejam mentiras. Aquela que nos mostra que podemos dar vida ao que matamos. E damos.
Só para matá-las de novo.
Aposto que se pudessem gritar, os mortos diriam: Aproveite enquanto tudo pode reviver. Aproveite enquanto não é para nunca mais.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Liberdade e Compromisso

"O homem atual contempla com tanto receio a possibilidade de se comprometer que se corre o risco de paralisar, voluntariamente, seu poder de escolha e sua própria liberdade ao cabo. Escolher é comprometer-se. Toda a escolha é um compromisso. Logo, aqueles que têm pavor de escolher ou se limitam a tentativas abandonadas rapidamente contradizem e anulam a sua própria liberdade.
O homem moderno está na junção de várias veredas, mas, enquanto tiver medo de se comprometer, ficará estagnado na encruzilhada. Esta paralisia da liberdade, que torna o homem incapacitado de optar, de maneira duradoura, por qualquer coisa que lhe imponha um certo sacrificio, já não é a simples dificuldade decorrente do poder de escolha, porém, o estorvo que deriva do singelo fato de que a adoção de uma alternativa implica a exclusão de todas as demais. [...]"
(André Gonçalves Fernandes, juiz de Direito da 2° Vara Cível da Comarca de Sumaré, Correio Popular, 22 de julho de 2009).

Jovens: Liberdade e Compromisso?

É comum se ouvir dizer que os jovens devem conquistar sua liberdade e seus direitos antes de poder assumir um compromisso ou qualquer outro tipo de relação com alguma coisa (ou alguém) que envolva responsabilidade e maturidade. Porém, o espaço dado a estes jovens para que descubram o que é ser livre e ter que arcar com as consequências de seus atos, é curto e limitado.
A própria sociedade inibe a sua coragem e determinação, já tão deturpada pelo medo de errar.
Concomitantemente, durante a sua formação, a maior parte da confiança que lhes é oferecida pelos adultos, vem acompanha pela insegurança mal disfarçada, que para eles tem um impacto maior do que deixam transparecer. O que explica a falta de confiança tão evidente que tem em si mesmos.
Todavida, concluída sua formação escolar, esperam que façam suas escolhas sem exitar e assumam seus compromissos. Contudo, quando exitam, são repudiados pelas mesmas pessoas que extinguiram a fé que deveriam ter sobre si mesmos. As mesmas pessoas que aprisionaram sua vontade de aprender a lidar com a liberdade e o compromisso que lhes são exigidos ao final. Pessoas que refletem o homem moderno. Que criam homens modernos.

Jéssica Bueno.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Eu não quero ser vazia.

O carro em movimento, a musica toca sem ninguém realmente a ouvir, mas dá um clima agradável para a conversa desconfortável que se iniciou sem que se soubesse como.

V: Eu pensei muito a respeito de faculdade federal sabe... vou prestar só por prestar, porque se for para eu ir pra longe, vai dar muito gasto para o meu pai. Quase tanto quanto se eu fizer em uma faculdade particular.
JB: Também pensei nisso... - olha para fora como que buscando coragem para dizer o que a angustiava há muito tempo - Sabe V., eu também não quero ir para longe, mas não tanto pelos gastos... é só que... eu estou feliz aqui. Pela primeira vez eu estou tendo a vida que eu quero, pode ser burrice, mas não quero abrir mão disso. Eu nunca aproveitei tanto ter meus amigos ao meu lado, nunca aproveitei tanto a minha família... nunca aproveitei tanto ter um namorado...

A amiga olha para JB. com um sorriso encorajador, em seus olhos há uma mescla de prazer e compreensão.

V: Jé, é exatamente isso que eu penso. Porque eu preciso deixar meus amigos, minha família, meu apoio, a cidade que eu amo, meu namorado, para ir atrás de um futuro que talvez seja brilhante? Aqui eu sou feliz, aqui eu sou completa. - JB. concorda com entusiasmo, então afinal não estava sozinha! - Porque preciso ir para longe e ser vazia?
JB: Meus Deus, eu não sou a única que pensa assim. Não quero ir para longe, quero tentar aqui. Minha mãe jamais entenderia. Tenho medo de passar na Unesp, medo de ter que ir para longe e deixar tudo o que eu conquistei para trás. Eu tenho tudo o que sempre quis, aqui eu me sinto forte. Não pode ser tão errado querer ficar. - as palavras, como de costume, saíram atropeladas devido a empolgação que sentia. Parou para tomar fôlego e concluiu: - Também me sentiria vazia em qualquer outro lugar. Sem saber para onde ir e sem poder voltar.

Ao lado, o motorista, que por sinal é namorado da V., deu um muxoxo de impaciência:
B: Vocês se preocupam demais.
V: Não amor. A escola é que nos deixa assim!
JB: Claro, o que mais nos mata é a sensação de que se não for agora, é para nunca mais. Odeio isso.
V: Sim, concordo. Parece que eles dizem: se vocês não passarem esse ano, se não conseguirem, tudo o que vocês já aprenderam não poderá ser usado nunca mais. Foi tudo uma perda de tempo.
JB: Exatamente!!
V: Mas sabe , eu já tomei mesmo a minha decisão. Vou ficar aqui, seja como for, vou lutar ao lado das pessoas que eu amo e que me fazem feliz. E se daqui a 20 anos eu olhar para trás e ver que não valeu a pena, pelo menos durante esses 20 anos eu fui feliz e estava satisfeita com o pouco que eu tinha...
JB: Sim! - vibrou ela - E daqui a 20 anos, sei que poderei encontrar outras razões para continuar satisfeita e feliz com o que eu consegui durante esse tempo. - completou a fala da amiga.

As amigas sorriram uma para outra. Compartilhavam o mesmo medo, a mesma angústia, compartilhavam, até certo ponto, dos mesmos desejos. Mas principalmente, compartilhavam e entendiam a mesma felicidade.
-- End --

Nós somos as novas caras da falência
Mais bonitos e mais jovens, mas não melhores
À prova de balas e sozinhos, ao menos
(Fall Out Boys)

Já perdi a conta de quantas vezes ouvi dizer que os jovens são os responsáveis por mudar o mundo, por fazê-lo melhor. Quantas gerações jovens já não ouviram o mesmo? E quantas realmente mudaram? Poucas. Mas existiram, há décadas talvez.
Determinação e força não é algo que se cria, nasce com a gente. Foi transmitida por nossos pais, que herdaram de seus pais.

Crescemos aprendendo que todas as regras devem ser respeitadas, somos moldados por elas. Somos filhos das falhas que caracterizam uma nação, falhas que são como rachaduras numa rocha, quanto mais o tempo passa, mais profunda ela se torna. Como mudar o mundo sem mudar quem somos? Como criar a coragem que caiu no abismo entre as rachaduras?
Sempre me dizem que preciso dar soluções em minhas redações. Mas só o que vejo quando olho pela janela, são perguntas sem respostas.

sábado, 18 de julho de 2009

Para: Jéssica

Ao longo de nosso crescimento, percebemos que nossas vidas estão baseadas no tempo, aquele criado pelos homens na ânsia de poder controlar a sua vida e a de outros ao seu redor. Quiçá isso só levou o homem a estreitar as relações e criar falsas expectativas acerca de uma pessoa. Contudo, às vezes, deparamo-nos com pessoas que ultrapassam isto, são aquelas capazes, não apenas de aproximar, mas de poder mudar a perspectiva de vida de uma pessoa, sustentando e apoiando um sonho desta – chamaremos aqui de amizade.
Mas, há momentos em que descobrimos pessoas que não são capazes de nos dar apoio, porem são altruísta, o suficiente – talvez louco, para dizer: “eu vou junto com você” – o qual eu chamo de Jéssica. E, pela incrível previsibilidade do futuro, posso falar que um dia nós nos separaremos, trilharemos caminhos distintos, e não vejo isso como algo ruim – embora isso possa parecer, mas como mais uma lição da vida para provar-me o quão você é importante e as inúmeras coisas que me ensinou.
Sentiremos saudades dessas conversas no MSN, desses sonhos efêmeros de poder concertar o mundo incrédulo e das infinitas vezes em que rimos das desgraças alheias. Saudades daquelas angustias, quem sabe daquelas lágrimas de desespero em querer fazer tudo ao mesmo tempo, como quem acreditasse que o mundo acabaria no momento seguinte. Porem nos lembrará a amizade vivida... Olha que sempre pensei que amizade durasse para sempre.
Nossas conversas, com o passar dos dias, meses e anos, tornaram-se mais raras. Até um instante em que não conversaremos mais, e ficará na memória como uma passagem da vida... Perder-nos-emos no tempo – adoro mesóclises.
Porem, em algum momento alguém vai olhar para uma foto e questionar: “Quem são esses?”, e você, quem sabe, responderá: “Foram meus amigos”. Então, penso que nesse momento a saudade recairá, e lembrará de tudo o que passou. E talvez isso doa, pois você poderá pensar que foi nessa época cheia de amigos que você viveu alguns dos melhores anos de sua vida.
Por isso, não sejamos estúpidos os suficientes para deixar que rixas, querelas ou discussões não construtivas se transformem em grandes decepções, fazendo com que não aproveitemos nossos melhores anos. Embora seja nos momentos de dificuldade em que vemos a qualidade de nossas amizades. Não é amigo aquele que alardeia a amizade: é traficante; a amizade sente-se, não se diz.

De: Rodrigo

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Nobody's sober

Eu não quero ser a garota que ri mais alto, ou a garota que nunca quer estar sozinha, porque só de estar sozinha com você em silêncio, já é o suficiente para que eu me sinta bem e feliz.
Não posso explicar porque me sinto dessa maneira, me sinto assim o tempo todo. E agora, com o sol me cegando, depois de ficar acordada a noite toda, eu descubro que não quero que essa história termine nunca!
Não há erros para serem cometidos novamente, essa é uma nova história, totalmente unica, não há nada para ser igual ou diferente.
Sei que estou segura aqui em cima, então porque eu sinto que essa festa acabou? Será que há algo errado?
Já não sei de onde vim, mas me sinto em casa com você. Só com você aqui. Céus, como posso me sentir bem assim tão sóbria?
Talvez a resposta não importe. Porém, pode abrir os olhos amor, e encontre as suas razões.
Você está comigo agora, e sei que não consegue encontrar o que deixou pra trás. Eu não quero ser a garota que tem de preencher o silêncio, sei que ele te assusta, porque grita a verdade.
Contudo, se parar para escutar, vai ouvir que a noite está nos chamando.
Ela diz: "vem brincar."
O que mais podemos fazer? Sei que se eu me deixar ir, sou a unica culpada.
Mas talvez a culpa não importe. Já não sei de onde vim, mas me sinto em casa com você. Só com você aqui.
Isso parece ser o suficiente. Tudo está tão bom, não há maneira de ficar mau.
Então desista de encontrar aquele antigo você.
Essa é uma nova história, totalmente unica, não há maneira de ser igual ou diferente.
(Intertextualidade de Sober - Pink, Nobody's Home - Avril Lavgine).

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Luna. Part II

Uma sombra remota a fez parar para refletir sobre sua vida.
Olhou para trás, para um passado quase presente, será que teria chegado até aquele ponto, feito o que fez, se tivesse continuado aonde estava?
A duvida corroeu suas certezas, ameaçando abalar sua segurança e trazer de volta os medos que ela acreditava estar livre. Respirou fundo e sentiu o sol acariciar sua pele. Não. Estava segura demais para se deixar levar por uma cisma momentânea.
Contudo, algo já havia se agitado dentro dela, deixando-a desconfortável. Fechou os olhos e repassou toda sua vida. Todos as suas atitudes, pensadas e não pensadas, todos os seus arrependimentos, suas dores mais profundas, os medos que já perfuraram sua alma.

Passou os olhos rapidamente pela primeira vez em que viu sua vida ser jogada de um penhasco, e do momento em que teve que se jogar atrás dela para resgatá-la. Tendo que juntar os caquinhos que restara dela, ao mesmo tempo em que seus ossos se restauravam em sua carne sangrenta. Não precisava se demorar nessa parte, ela ainda estava presente a cada minuto de sua vida. Jamais a abandonaria.
Preferiu se demorar no primeiro grito de liberdade que dera, quando sentiu o que era viver e encontrou o que há tempos estivera procurando, mesmo sem saber, as companhias eternas e passageiras que se tornaram fundamentais para sua existência. Uma dor espetou seu coração quando seu egoísmo lembrou-lhe que muitos dos momentos perfeitos dessa época estarão protegidos pela solidão do nunca mais. Foi o canto de um pássaro próximo que a salvou da força de seu ego.
E com vergonha olhou para o maior fracasso de toda sua existência, quando desistiu de gostar de viver. Quando aceitou falsas verdades para fingir que seus sonhos haviam sido realizados. Quando virou as costas para o tempo, e deixou passar o que poderia ser uma das melhores fases de sua adolescencia.
Então entendeu.
Embora essa parte pareça ter ocorrido numa outra vida, com outra pessoa, ela soube que é a parte fundamental para chegar aonde chegou. Esse fracasso afirmou todas as suas experiências, das vitoriosas às dolorosas, das irresponsáveis às mais maduras. Pela primeira vez notou que todas as suas atitudes a haviam levado aonde está e nada poderia mudar o curso que sua vida está seguindo.
Olhou atentamente para o passo que havia dado, pode ter sido grande demais para suas pernas, mas certamente a deixou no lugar certo. Esse momento não era como o antigo grito de liberdade, era como um sussurro timido que indaga: isso é ser livre?
Só depois de sentir, entendeu o que afinal é viver. Foi preciso não reconhecer o que tinha, perder tudo e refazer, ganhar luz e entrar por vontade própria na escuridão, para ter a pequena compreensão do que significa ter uma vida.
Abriu os olhos e finalmente sorriu.

"Quando desisti dos meus sonhos e desejos, tudo aquilo que sempre quis foi jogado de qualquer jeito em meus braços. Não parei para arrumar, continuei andando com aquele peso, sem abrir mão de nada, e sem saber ao certo como lidar com tudo de uma vez só.
Desconfiei do amor e mesmo assim o agarrei. Temi muitos momentos, mas mesmo assim os vivi como se fossem unicos. E me apaixonei por cada instante em que tive que fazer com toda aquela bagunça o melhor possivel."

Contudo, algo ela não confessou, e talvez jamais seja capaz de confessar, o quanto se apaixonou por seus próprios pecados.

sábado, 11 de julho de 2009

O humor e o Tempo

Está chovendo. Maldição!
Meu humor acompanha o tempo, e sou uma garota de sol. Tudo para mim tem menos vida quando chove, menos cor quando esfria. Toda dor é sempre pior.
Se a Terra não precisasse da chuva, se a nossa própria existência não precisasse dela, então certamente eu ficaria ainda mais furiosa.
As matizes do céu se perdem nas nuvens brancas e pesadas.

Isso me chateia.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

O que se espera do tempo?

Esperar é o que todo mundo faz. Espera para poder comprar um carro, para poder fazer algo que gosta. Espera ser promovido. Espera onibus. Espera o momento certo.
Quem não espera é apressadinho demais. Imaturo. Irresponsável.
Quem só espera, não sabe viver. É lento. Não tem perspectiva.
A sociedade passa o tempo julgando cada individuo, não pelo que ele faz ou por quem ele é, mas pelo quanto ele espera e como usa o tempo de esperar. A verdade é que vivemos buscando mais tempo para podermos continuar à espera de nossos desejos.

Tempo. O senhor da vida. É comum se ouvir dizer que os seres humanos passam por várias fases durante a vida. Bobagem. Eles passam por mudanças de tempo, pois passam a querer fazer mais coisas de uma vez só. Contudo, por uma estranha razão, este está sempre em falta. O que ocasionalmente os obriga a esperar para concluir tudo o que precisam fazer.

Também não é incomum à alusão que se faz de que o tempo é retilinio, composto por passado, presente e futuro. Mentira. Não há nada mais cíclico do que o nosso senhor. Pois este não é definido pelos fatos que o marcam, mas pela rotina incessante de minutos formados por 60 segundos e horas formadas por 60 minutos, pela insuportável ligação que há entre a hora de dormir e a hora de acordar, pelo desgraçado momento em que se tem que fazer a mesma coisa de ontem, do dia anterior, e do outro... Porém, defini-se principalmente, pela constante regra de esperar.
Aqueles que dizem que a unica coisa que se espera do tempo, é mais tempo para fazer tudo o que precisam, enganam-se. Pois só que fazem é esperar. Esperam do tempo mais tempo para esperar. Esperam sempre, a hora certa de amar, de confiar, de beijar.



Esperam viver.