V: Eu pensei muito a respeito de faculdade federal sabe... vou prestar só por prestar, porque se for para eu ir pra longe, vai dar muito gasto para o meu pai. Quase tanto quanto se eu fizer em uma faculdade particular.
JB: Também pensei nisso... - olha para fora como que buscando coragem para dizer o que a angustiava há muito tempo - Sabe V., eu também não quero ir para longe, mas não tanto pelos gastos... é só que... eu estou feliz aqui. Pela primeira vez eu estou tendo a vida que eu quero, pode ser burrice, mas não quero abrir mão disso. Eu nunca aproveitei tanto ter meus amigos ao meu lado, nunca aproveitei tanto a minha família... nunca aproveitei tanto ter um namorado...
A amiga olha para JB. com um sorriso encorajador, em seus olhos há uma mescla de prazer e compreensão.
V: Jé, é exatamente isso que eu penso. Porque eu preciso deixar meus amigos, minha família, meu apoio, a cidade que eu amo, meu namorado, para ir atrás de um futuro que talvez seja brilhante? Aqui eu sou feliz, aqui eu sou completa. - JB. concorda com entusiasmo, então afinal não estava sozinha! - Porque preciso ir para longe e ser vazia?
JB: Meus Deus, eu não sou a única que pensa assim. Não quero ir para longe, quero tentar aqui. Minha mãe jamais entenderia. Tenho medo de passar na Unesp, medo de ter que ir para longe e deixar tudo o que eu conquistei para trás. Eu tenho tudo o que sempre quis, aqui eu me sinto forte. Não pode ser tão errado querer ficar. - as palavras, como de costume, saíram atropeladas devido a empolgação que sentia. Parou para tomar fôlego e concluiu: - Também me sentiria vazia em qualquer outro lugar. Sem saber para onde ir e sem poder voltar.
Ao lado, o motorista, que por sinal é namorado da V., deu um muxoxo de impaciência:
B: Vocês se preocupam demais.
V: Não amor. A escola é que nos deixa assim!
JB: Claro, o que mais nos mata é a sensação de que se não for agora, é para nunca mais. Odeio isso.
V: Sim, concordo. Parece que eles dizem: se vocês não passarem esse ano, se não conseguirem, tudo o que vocês já aprenderam não poderá ser usado nunca mais. Foi tudo uma perda de tempo.
JB: Exatamente!!
V: Mas sabe Jé, eu já tomei mesmo a minha decisão. Vou ficar aqui, seja como for, vou lutar ao lado das pessoas que eu amo e que me fazem feliz. E se daqui a 20 anos eu olhar para trás e ver que não valeu a pena, pelo menos durante esses 20 anos eu fui feliz e estava satisfeita com o pouco que eu tinha...
JB: Sim! - vibrou ela - E daqui a 20 anos, sei que poderei encontrar outras razões para continuar satisfeita e feliz com o que eu consegui durante esse tempo. - completou a fala da amiga.
As amigas sorriram uma para outra. Compartilhavam o mesmo medo, a mesma angústia, compartilhavam, até certo ponto, dos mesmos desejos. Mas principalmente, compartilhavam e entendiam a mesma felicidade.
-- End --
Nós somos as novas caras da falência
Mais bonitos e mais jovens, mas não melhores
À prova de balas e sozinhos, ao menos
(Fall Out Boys)
Já perdi a conta de quantas vezes ouvi dizer que os jovens são os responsáveis por mudar o mundo, por fazê-lo melhor. Quantas gerações jovens já não ouviram o mesmo? E quantas realmente mudaram? Poucas. Mas existiram, há décadas talvez.
Determinação e força não é algo que se cria, nasce com a gente. Foi transmitida por nossos pais, que herdaram de seus pais.
Crescemos aprendendo que todas as regras devem ser respeitadas, somos moldados por elas. Somos filhos das falhas que caracterizam uma nação, falhas que são como rachaduras numa rocha, quanto mais o tempo passa, mais profunda ela se torna. Como mudar o mundo sem mudar quem somos? Como criar a coragem que caiu no abismo entre as rachaduras?
Sempre me dizem que preciso dar soluções em minhas redações. Mas só o que vejo quando olho pela janela, são perguntas sem respostas.
Um comentário:
e eu achei que era só eu...
eu adoro minha cidade, é no interior e eu adoro.
eu quero tentar aqui, aqui tem tudo que eu preciso, amigos, família, minha vida. Eu sou feliz aqui...e se o que eu busco é felicidade aqui eu tenho a minha!
adoreeiiii
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