
Estava caminhando sobre o sol, acreditando que aquele seria um dia como outro qualquer, que olharia os pássaros e sorriria para as flores. Que desfrutaria o prazer de ver a rotina da beleza presente na simplicidade da existência.
Encostei na mesma árvore de sempre, esperando, dessa forma, fazer companhia para sua vida monótona e satisfatória e compartilhar a paz de seu silêncio. Ela era uma velha amiga. Eu a amava porque não tinha palavras para me consolar em dias tristes, nem para chamar minha atenção em dias felizes. Apenas ficava ali, sem exigir nada, sem precisar de mim.
Entretanto, naquele dia normal, ela falou. Porque o fez, não sei. Contou-me sobre o passado, sobre uma garota com vestido de seda rosa, que num dia como aquele, a abraçou e chorou. Chorou porque descobriu que sua vida era ilusão.
A história da garota era comum. Seu amado não cumpriu suas promessas de amor, deixou-a quando a filha de um barão mudou-se para a cidade. Quando perguntei a ela por quê não confortou a pobre menina, respondeu-me:
"A natureza da humanidade é instável. Humanos não foram feitos para prender-se a algo sólido e eterno como eu. E embora sua maioria não consiga enxergar isso, conseguem encontrar sempre outro motivo para viver, outro alguém ou alguma outra coisa na qual se prender."
"Ora, então não farei mais isso. Não me prenderei a nada ou a ninguém!" Apressei-me a dizer.
Por alguns minutos ela não disse nada. Até que me surpreendeu ao perguntar. "Você sabe amar?"
"Bem, eu já amei..." Respondi, incerta. Nunca encontrei as regras do amor para ter certeza de saber amar.
"Nunca amei. Não sei amar. Não preciso amar." Ela me disse, com sua voz dura. "Só preciso alimentar-me dos elementos que me rodeiam e existir. Tudo o que eu sou é uma certeza sem sentimentos. Talvez, se pudesse sentir, também gostaria de me aprender àquilo que me faz bem."
Quando terminou de falar, um sentimento estranho me acometeu. Parecia haver borboletas dentro de mim. Estava confusa e com medo. Não entendi ao certo o que a Árvore quis dizer, porém, guardei suas palavras em meu coração.
Pensei no futuro, no que ele está guardando para mim e as borboletas se agitaram ainda mais, deixando-me enjoada. Então, fui salva de meus pensamentos por um trovão que obrigou-me a correr da chuva.
Mais tarde, naquele dia, deitada nos braços de alguém que me amou, olhei para a solitária Árvore no meio da chuva e me senti feliz por ser humana. Talvez eu nunca entenda ao certo o que ela quis dizer, contudo, poderei sempre buscar respostas aonde for e levar comigo ou ir atrás de tudo aquilo ao qual não posso me prender.
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