Vou falar um pouco sobre jornalismo. Vou falar um pouco sobre o jornalismo do século XIX.
O copidesque é o filtro do jornalismo impresso. Tem a função de fazer uma verificação em toda matéria, é como um recurso editorial para a unificação da linguagem utilizada, e para salvar pequenos deslizes gramaticais.
Ele é também uma forma da instituição jornalística exercer vigilância sobre o que se publica ou divulga no anonimato, dificultando as escapadas que os jornalistas dão para, sutilmente, expor sua opinião sobre o assunto, contudo, ainda há esperanças de passar despercebida!
Sobre isso, Nelson Rodrigues, jornalista e escritor brasileiro (1912-1980), deu um depoimento manifestando a sua rejeição ao copidesque:
"Sou da imprensa anterior ao copidesque. (...) Na redação não havia nada da aridez atual... (...) Havia uma volúpia autoral inenarrável. E nenhum estilo era profanado por uma emenda. Jamais. Durante várias gerações foi assim e sempre assim. De repente, explodiu o copidesque.
Qualquer um na redação, seja repórter de setor ou editorialista, tem uma sagrada vaidade estilística. E o copidesque não respeitava ninguém. (...) Sim, o copidesque instalou-se como a figura demoníaca da redação. (...) Aliás, devo dizer que o copidesque e o idiota da objetividade são do mesmo gênero e um explica o outro (...) E o pior é que, pouco a pouco, o copidesque acabou fazendo do leitor um outro idiota da objetividade. A aridez de um transmite ao outro. Eu me pergunto se, um dia, não seremos nós cem milhões de copidesque. Cem milhões de impotentes de sentimentos."
Isso quase sufocou minha alma. Imaginar alguém metendo o bedelho no meu texto me dá arrepios. Contudo, é como dizem, ossos do ofício.
Em contrapartida, encontrei um trecho defensor do copidesque. Segue:
“A atividade de copidesque é mais complexa que a de revisão. (…) Se um texto é mal redigido, com repetições injustificáveis, mal paragrafado, contendo ideias desconexas, primando pela falta de coesão e coerência textual etc., ele deve ser copidescado. No processo de copidesque, o profissional propõe, reescreve, revisita o original, com a finalidade precípua de ‘relavrar’ o texto. Há textos ricos em conteúdo, mas que não resistem a uma análise acurada. É nessa hora que o revisor (ou o copidesque) tem de exibir o seu conhecimento de leitura, de cultura geral, e sua habilidade na produção de texto, conferindo clareza ao trabalho.” [NETO, Aristides Coelho. Além da Revisão: critérios para revisão textual. Brasília: Editora Senac-DF, 2008]
Ok. Isso me deixou um tanto indignada.
"Se um texto é mal redigido, com repetições injustificáveis, mal paragrafado, contendo ideias desconexas, primando pela falta de coesão e coerência textual etc., ele deve" ser despedido. Esse cara deve ser despedido. Não se estuda quatro anos para exercer mal uma profissão! E quem é que contrata um profissional desses?
Posso dizer que, se alguém me oferecer um trabalho como copidesque hoje, aceito sem exitar. Contudo, não posso aceitar a forma como este autor exaltou a profissão. Como se todos os jornalistas que trabalham nas matérias fossem ignorantes, incompetentes. E não devem ser.
Precisam ser os melhores, pois são instrumentos de conexão da sociedade, quem faz as pessoas se revoltarem contra injustiças, contra a mizéria. Se unirem e se apiedarem quando desastres acontecem.
Com certeza, temos que ser melhores que nossos copidesques.
Entretanto, isso me fez pensar em como há pessoas insatisfeitas e trabalhando apenas por trabalhar. Apenas porque precisam sobreviver.
Alguns dizem que os jovens estão, cada vez mais, perdendo o interesse pelos estudos. Quem sabe seja preciso ver que os adultos estão, também, perdendo o prazer de exercer suas profissões. E então, de que valeu estudar todos aqueles anos? De que valeu se esforçar?
Será que já são os seres humanos "Cem milhões de impotentes em sentimentos"?
2 comentários:
Ah, você aceita sem EXITAR, fazer um trabalho de copidesque, que exige boa noção de gramática, grafia etc.?
Hum. Percebe agora como jornalistas precisam, sim, dos copidesques? Assim como dos revisores?
Sem hesitar digo que VOCÊ ESTÁ DE - MI- TI -DA hahahahahhahahahahahahahahah.
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