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sexta-feira, 19 de março de 2010

Wonderland

Nós éramos jovens quando o vi pela primeira vez e eu era apenas uma menina aprendendo a juntar seus sonhos.
Como num conto de fadas, ele era meu príncipe, por isso lhe pedi que viesse me buscar, me levar para um lugar aonde ninguém pudesse nos encontrar, só para poder fingir que o tempo não existia e que nada poderia estragar a felicidade que sentia.

Não me importava que meu Romeu atirasse pedras em pássaros, eu era a princesa e estava construindo nosso castelo, tijolo por tijolo, antes que os lobos viessem para destruí-lo. Podia ouvi-los se aproximando, cada dia em que o esperava, era um dia mais perto dos cães selvagens, pensei que não viesse mais, que estaria perdida no meio de uma matilha faminta.
E então ele chegou, pegou a minha mão e me guiou pelo jardim do castelo, havia muitas flores de diversas cores e eu até podia voar com asas de borboleta. Pensei que estivesse no país das maravilhas, de pés no chão e cabeça nas nuvens.

Entretanto, algo parecia estar dando errado, ele sorriu para mim e se afastou. Fiquei confusa, tudo o que podia ouvir era um badalo frio e sádico. O chão pareceu sumir de meus pés eu estava despencando de ponta cabeça. Talvez estivesse enlouquecendo.
Os badalos continuaram, até que eu entendi. Era o relógio marcando meia-noite, era tudo um truque e pude sentir o desespero de Cinderela. Tentei bater minhas asas, porém elas não funcionavam mais. Tentei gritar, mas estava num conto de fadas, muito longe para que qualquer um me encontrasse, já havia me esquecido do gosto e do cheiro do mundo que deixei.
Tudo o que conhecia eram as lendas que me contaram, contudo, os ângulos estavam todos errados, como poderia lutar?

Tinha construído um mundo mágico, porque minha realidade era cruel demais para viver e agora descobri que não há como fugir da tragicidade da vida.
Me dêem uma pá, quero cavar um buraco para enterrar meu castelo, porque sim, eu vou sobreviver a isso. Mesmo que o mundo esteja se partindo, quando eu finalmente atingir o chão não vou apenas me virar, vou cavar bem fundo um buraco para enterrar meu castelo.

Nunca mais cairei num truque novamente, vou me defender até o fim, pois aprendi que se algo não é real, não há como enxergar, não há como sentir com o coração e então não vale à pena.
Eu não vou mais acreditar no que não posso ver.
Jéssica Bueno
Créditos:
Brick by boring brick - Paramore // Wonderland - Avril Lavigne // Love Story - Taylor Swift

Um comentário:

Vento disse...

Que bonito, você que escreveu? Como pode ninguém comentar aqui antes?!

Mas olha, as vezes o que não se vê, aguarda ser enxergado... as vezes são coisas que não queremos enxergar, no entanto estão ali... ai a gente se confunde...