
Não lembro se já disse aqui que, se há uma coisa que pode realmente me apavorar, é o fim. Pois se não disse, grito agora: odeio finais, não sei lidar com o "nunca mais", porque ele, ao contrário do " para sempre", quando existe, nunca acaba.
Nunca pensei que fosse encontrar um final que não me causasse uma dor profunda e uma negação irracional. Pois senhores, estou diante de um. Porém, para chegar à história do fim, deve-se contar a história do começo.
Vamos a ele.
Quando o ano começou e as aulas estavam próximas a voltar, meu coração foi ficando cada vez menor. Este é um ano em que cada dia é a "ultima vez de minha velha e cômoda vida", eis o meu terror. Imaginei ficar sem entrar em um colégio, com todos aqueles adolescentes berrantes querendo controlar o mundo e uns aos outros, imaginei não ter professores dando créditos e pontos ao seus alunos ingratos, ensinando-os a ser gente e não apenas a reconhecer suas falhas, mas a concertá-las. Imaginei não estar em um ambiente cheio dessas pessoas que se importam com meu futuro por mim. Não ter quem esteja ali para me ensinar, de novo e de novo, o que meu cérebro teima em não aprender. Preguiçoso e infantil como é.
Imaginar doeu. Não posso dizer se doeu mais do que doerá quando tudo realmente acontecer, ontem dizia que sim, hoje digo que não, o amanhã quem sabe?
Ver meus amigos e colegas de sala e tentar adivinhar o que se tornarão, se nos veremos futuramente ou se trabalharemos uns com os outros, doeu também. Os amigos em dobro, é claro. Ademais, o que inflama o ferimento é a saudade antecipada. Dessa já falei, dói mais que a saudade propriamente dita.
E tudo gira em torno do tempo. O tempo que de repente resolveu passar depressa e deixar tudo o que conheço para tras, o tempo que me cobra escolhas e tinge de cinza os meus sonhos mais coloridos. E foi este mesmo cretino que tomou a minha dor, levou embora a minha saudade e transformou minha fonte de arco-iris em pesadelos. Ele fez pessoas que admirava cuspirem palavras espinhosas, fez-me ver o quão pobre de alma algumas pessoas são, e isto tornou um desprazer conviver com elas, te-las em minhas lembranças ternas. É repugnante ver que o coração que antes batia devagar para apreciar cada segundo que restava no meu "mundinho feliz", é o mesmo que bate desesperado para se livrar dele.
Esta é a história do fim. Para mim o tempo de apreciar e aproveitar pela ultima vez, acabou. O ano ainda está rolando e os dias voando, mas tudo o que eu tinha medo de deixar, me deixou. Tentei por vezes e vezes fazer tudo certo, tentei montar um momento perfeito para nos despedirmos, para que eu pudesse, naquele momento, olhar para trás e dizer: "valeu a pena". E um coro me acompanhar: "sim, valeu a pena". É devastador saber que tais palavras jamais poderão sair de minha boca, a menos que sejam arrastadas por algum sentimento apressado.
Entretanto, dentro de mim ainda há uma lágrima de indignação, sim eu quero chorar. De raiva, de mágoa, não de dor e nem tampouco de saudade. Por que furar minha trouxinha de bons sentimentos, bons desejos, bons sonhos e boas recordações?
É, meus caros, a vida não é ruim, o mundo não é, nem de longe, cruel. As pessoas é que são, e o são com o prazer que um guloso tem de devorar um bolo as escondidas.
Jéssica C. Bueno
"Tudo acaba, leitor; é um velho truísmo, a que se pode acrescentar que nem tudo o que dura dura muito tempo. Esta segunda parte não acha crentes fáceis, ao contrário, a ideia de que um castelo de vento dura mais que o mesmo vento de que é feito dificilmente se despegará da cabeça, e é bom que seja assim, para que não se perca o costume daquelas construções quase ternas."
(Dom Casmurro)
2 comentários:
Bom eu já te disse que você tem a mágica das palavras, a leitura fluí de um jeito que eu me encanto aqui.
E tente encarar isso como um novo começo.!
Beijooooos
Jeeh, é triste ver que você foi atrás e ainda viraram as costas pra você, que você tentou agradar a todos e eles simplesmente passaram a te odiar. As pessoas que no começo do ano te apoiavam, agora estão do outro lado do muro. Falando em muro, dá pra fazer até uma comparação interessante, não visando o nível de desenvolvimento mas os "conceitos que eram passados p\ as pessoas". Estamos em uma alemanha divida, somos do lado comunista e parece que todos estão fazendo de tudo para passarem p\ o lado capitalista, onde se tem a falsidade e a crueldade impulsionando a disputa de quem é o melhor, ou seja, "você está do meu lado mas na primeira vez que for necessário, não hesitarei em te descartar para que eu permaneça em destaque. Caso seja necessário, pisarei em cima de qualquer um para continuar querida(o) pela maioria."
O engraçado é que a maioria está se fazendo de cego e estão estendendo seus braços à espera de alguem pra levá-los ao outro lado e ao mesmo tempo, acreditam fielmente na descrição de mundo que é passada, sem ao menos tentarem analisar a situação com o que é dito por ambos os grupos.
"...fez pessoas que admirava cuspirem palavras espinhosas, fez-me ver o quão pobre de alma algumas pessoas são, e isto tornou um desprazer conviver com elas,...".Estamos na mesma então.
Gostei muito do seu texto Jeh, e também gosto da maneira que você os escreve. /o/
beijo -Piko-
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