
Entro e todos me olham, olhares de reconhecimento, sorriem para mim e ignoram a água que escorre copiosamente de minhas roupas; eles não podem vê-las. Pois há muito a chuva caiu apenas sobre minha alma e agora escorre eternamente pela minha essência.
São velhos amigos para uma pessoa nova. Nada fazem além de lembrar-me o que desejei não ter vivido; ao menos posso ver em que momento deixei-me para trás. E o contraste está nas conversas. São velhas, porém, minhas palavras são todas novas. Agora entendo. Agora não dói mais. Contudo, a escória continua crua.
Faço meu riso ecoar no ambiente, ecoar em suas mentes, apenas porque a vida parece-me engraçada, as pessoas são todas comicas. Querendo desvendar uns aos outros, quando na verdade, nem ao menos conhecem a si mesmos. Cansei de ouvir desculpas de atos impulsivos, há culpa na desculpa; só se pode inocentar o silencio.
E quando o tive, ali em meio aos velhos companheiros, que gabam-se cada qual por achar que conhecem-me a mais tempo, pude ver a que grau está a decomposição do meu antigo eu. E ao mesmo tempo em que surpreendo-me, posso entender que tudo o que fui trouxe-me para onde estou e fez-me ser quem hoje sou. Talvez pudesse ter sabido disto antes, porém, descubro agora que um dia as palavras escaparam-me, e no momento são tão fartas que vazam de mim quase que instantâneamente.
Prefiro sentar-me ao lado de quem convive com o meu ser atual, sinto-me a vontade por não ter que explicar minha vida, meus atos, meus pensamentos. Apenas eles sabem que, naquele presente, meu sorriro está furioso. Meus planos para um futuro próximo foram aprisionados, sentenciados sem o menor pudor, como se eu não fosse capaz de lidar com eles. É fato que algumas pessoas desejam coisas com as quais não são capazes de dar conta, porém, se olhares para dentro delas, existe a determinação encomendada para chegar no momento certo; no momento em que terão de aprender a encarar o esperado e o inesperado.
Entretando, não deixo de concordar que acidentes acontecem, mas afinal não podem ocorrer em qualquer lugar?
Dão-me razão e compartilham de minha ira. Ira controlada, pois no momento de meu julgamento, calei-me com a condenação, compreendi que na vida é necessário aceitar ser tratado como se fosse mais jovem, simplesmente para mostrar a maturidade que não lhe deram; ser dotado de compreensão, mesmo diante de uma contrariedade.
Porém, confesso que não sou uma pessoa melhor do que fui. Chorava por querer ter uma vida diferente, agora minto para viver, com frequência estou aonde não deveria estar e faço o que não deveria fazer, mas vivo ao menos.
"Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltasse os outros, vá um homem consolar-se mais ou menos das pessoas que perde; mais falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo."
(Dom Casmurro)
(Dom Casmurro)
Luna eternamente.
2 comentários:
Fico tão feliz de ler coisas instigantes. Creio que não haja caminho certo. Ele é, sim, criado por você. Saiba que para interações textuais ou não, estarei aqui sempre!
O esperado e o inesperado muitas vezes se confundem... Você escreve muito..
Beijooo e boa semana !
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