
Olhou para trás, para um passado quase presente, será que teria chegado até aquele ponto, feito o que fez, se tivesse continuado aonde estava?
A duvida corroeu suas certezas, ameaçando abalar sua segurança e trazer de volta os medos que ela acreditava estar livre. Respirou fundo e sentiu o sol acariciar sua pele. Não. Estava segura demais para se deixar levar por uma cisma momentânea.
Contudo, algo já havia se agitado dentro dela, deixando-a desconfortável. Fechou os olhos e repassou toda sua vida. Todos as suas atitudes, pensadas e não pensadas, todos os seus arrependimentos, suas dores mais profundas, os medos que já perfuraram sua alma.
Passou os olhos rapidamente pela primeira vez em que viu sua vida ser jogada de um penhasco, e do momento em que teve que se jogar atrás dela para resgatá-la. Tendo que juntar os caquinhos que restara dela, ao mesmo tempo em que seus ossos se restauravam em sua carne sangrenta. Não precisava se demorar nessa parte, ela ainda estava presente a cada minuto de sua vida. Jamais a abandonaria.
Preferiu se demorar no primeiro grito de liberdade que dera, quando sentiu o que era viver e encontrou o que há tempos estivera procurando, mesmo sem saber, as companhias eternas e passageiras que se tornaram fundamentais para sua existência. Uma dor espetou seu coração quando seu egoísmo lembrou-lhe que muitos dos momentos perfeitos dessa época estarão protegidos pela solidão do nunca mais. Foi o canto de um pássaro próximo que a salvou da força de seu ego.
E com vergonha olhou para o maior fracasso de toda sua existência, quando desistiu de gostar de viver. Quando aceitou falsas verdades para fingir que seus sonhos haviam sido realizados. Quando virou as costas para o tempo, e deixou passar o que poderia ser uma das melhores fases de sua adolescencia.
Então entendeu.
Embora essa parte pareça ter ocorrido numa outra vida, com outra pessoa, ela soube que é a parte fundamental para chegar aonde chegou. Esse fracasso afirmou todas as suas experiências, das vitoriosas às dolorosas, das irresponsáveis às mais maduras. Pela primeira vez notou que todas as suas atitudes a haviam levado aonde está e nada poderia mudar o curso que sua vida está seguindo.
Olhou atentamente para o passo que havia dado, pode ter sido grande demais para suas pernas, mas certamente a deixou no lugar certo. Esse momento não era como o antigo grito de liberdade, era como um sussurro timido que indaga: isso é ser livre?
Só depois de sentir, entendeu o que afinal é viver. Foi preciso não reconhecer o que tinha, perder tudo e refazer, ganhar luz e entrar por vontade própria na escuridão, para ter a pequena compreensão do que significa ter uma vida.
Abriu os olhos e finalmente sorriu.
"Quando desisti dos meus sonhos e desejos, tudo aquilo que sempre quis foi jogado de qualquer jeito em meus braços. Não parei para arrumar, continuei andando com aquele peso, sem abrir mão de nada, e sem saber ao certo como lidar com tudo de uma vez só.
Desconfiei do amor e mesmo assim o agarrei. Temi muitos momentos, mas mesmo assim os vivi como se fossem unicos. E me apaixonei por cada instante em que tive que fazer com toda aquela bagunça o melhor possivel."
Contudo, algo ela não confessou, e talvez jamais seja capaz de confessar, o quanto se apaixonou por seus próprios pecados.
Um comentário:
Você escreve muito bem =)
'Contudo, algo ela não confessou, e talvez jamais seja capaz de confessar, o quanto se apaixonou por seus próprios pecados.' Adorei isso.
Sim, sou a Mariana sim haha. Então, eu estudei no rds, saí de lá agora! Lembro de você.. como está? Beijos!
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