Estava distraída quando ela me atingiu, o impacto foi simples e longo, pude contar cada segundo como se fosse um minuto. Lembrei-me como flash que tinha deixado uma panela no fogo, sempre fui desligada, mas nunca pensei que algo assim poderia acontecer comigo.
Quando ela começou a tocar minha pele, reparei que não havia muitas pessoas na rua, e antes que pudesse conter, gritei tão alto, quanto jamais havia gritado em toda minha vida. Percebi que havia me furado quando um sentimento desconhecido agulhou-me no estômago, quis mais que nunca falar com Mário, tinha que lhe contar que mais um bebê estava por vir, Ana Lú ficaria tão feliz em saber, ela queria muito um irmãozinho.
Meus joelhos cederam e eu cai de costas, o céu azul-alaranjado ficou gravado em minha retina, permanentemente; também ouvi crianças gritando, o que me confortou. O som da vida, senti falta daquela época onde chorava para minha mãe quando me machucava e ela dizia que estava tudo bem, sempre curava tudo com aquela mágica-de-mãe; todos os arranhões que se ganha ao pular portões, todas as "esfoladas" no joelho dos piores tombos, todos os medos de dormir sozinha no escuro, todas as manhas do mundo.
A verdade esbofeteou-me dolorosamente, quando era criança, tinha tempo de sobra, quando cresci, comecei a ter tempo de menos. E quanto "menos", daria um minuto para poder dizer mais uma vez à minha filha o quanto a amo e que sempre estarei com ela, um minuto para dizer ao Mário, que ele foi muito especial na minha vida e que jamais esquecerei do café-da-manhã com rosas, quando fui demitida do segundo emprego.
Todos os dias já desvalorizados pareciam lindos, me agarrei a cada eterno segundo, mas Ela chegou, desta vez, não a bala que tirou-me a vida, mas a morte que levou-me deste mundo. Preferi andar ao lado dela, sem olhar para trás.
Afinal, tudo valeu a pena, não haveria motivo, para olhar para trás.
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