Compartilhar-lhes-ei a história de uma fada, que me encantou de uma maneira esplendida e atraiu minha atenção por horas, meses e anos. Quando a vi pela primeira vez, havia nela um olhar brilhante, as luzes dançavam ameaçadoras, como se a qualquer momento fossem mudar sua coreografia. Confesso que, sobre ela, esperava qualquer coisa, qualquer atitude linda e encantadora e aguardava sempre para mais de seus sorrisos sol.
É lastimável que eu tenha me esquecido que nem sempre o sol brilha, que há dias cinzentos. Mas o pior de meus esquecimentos, foi o de achar que paredes não existem.
Todos os dias a via saindo em busca de seus sonhos, sua carreira como estilista parecia estar-lhe traçada, só faltava encontrar uma empresa que desse a ela o devido valor. Infelizmente nos falávamos pouco, mas ainda mais infeliz é a real idéia de que fui eu, e confesso com culpa, que dei a ela a oportunidade de trabalhar em uma das maiores empresas de moda de New York. A verdade é que, sempre achei que minha fada, fosse capaz de fazer qualquer coisa, talvez tenha subestimado seus encantos, porém, não a deixei sozinha em momento algum. Logo me mudei para lá, e segui meu cargo na empresa de meu pai, inicialmente, ela brilhou. O orgulho me dominou de tal forma, que tive a necessidade de provar a todos que ela era capaz de mais, minha rainha mística. Dei meu jeitinho e a coloquei em um cargo chefe, ela simplesmente tinha o poder sobre grande parte dos funcionários, era responsável por tudo em sua seção.
Notei que sua vida se tornou um pouco corrida, mas sabia que isso não era nada demais para ela. Porém, um raro dia em que conversamos, notei que o brilho dançante em seus olhos havia sumido, pude perceber que eles estavam opacos e distantes, perguntei-lhe se estava tudo bem, foi quando percebi o que havia feito. Afastei-a de seus amigos, de sua família e por uma desventura, do homem que possui seu coração. Sim, para meu desencanto, este mero mortal, ainda possui o coração de minha fada.
Com peso na alma, disse-lhe que devia voltar para casa e que a recomendaria para uma boa empresa brasileira, ela recusou terminantemente, alegando que não poderia deixar todos na mão, que precisavam dela no trabalho e que havia começado uma coleção de inverno. Foi quando mais me assustei, a garota que via buscar seus sonhos, não se prenderia jamais a uma coleção de inverno que não desejava, a fada que me encantou, buscava sobretudo, sua felicidade e procurava transmitir alegria. Seu desejo sempre foi inovar a moda, principalmente as roupas de verão, onde poderia brilhar. Perguntei a ela o que pretendia fazer no final de semana, respondeu que iria trabalhar, então, quis saber quais os planos dela para as férias, ela disse que iria descansar e começar a desenhar modelitos que superassem a empresa concorrente.
Minhas entranhas se reviraram de incômodo, certamente coloquei carga demais sobre ela, afinal, fadas são delicadas e exigem ser tratadas com carinho, tentei convence-la de que seria melhor sair de férias mais cedo e ir para casa de seus pais; ah, que decepcção foi a resposta! Para se manter no trabalho, brigou com seus pais, não se falou com seus amigos e foi deixada pelo dono de seu coração.
Havia a minha frente, uma garota com vida de mulher, com um coração desgastado e um olhar apagado, não seguia mais seus ideais, "os perdi, voltar não me fará viver no passado, nem construir um futuro. Só me resta continuar no presente" disse para mim. Tentei faze-la mudar de idéia, mas era inútil, a fada encantada se perdeu no caminho, os sonhos que a envolviam, já não existiam, seu sorriso se tornou um empregado, só estava lá quando ela precisava dele.
Decidi que o melhor era me afastar dela, desconheci minha paixão, não se pode lutar por quem não luta por si mesmo. Soube que a garota está muito bem na empresa, que sabe como manter a postura de seus funcionários, pena que não soube manter quem era.
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